quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Louvor, Adoração, e Espiritualidade: Ômega da Apostasia

Louvor, Adoração, e Espiritualidade: Ômega da Apostasia



Pr. Joaquim Azevedo Neto, Ph.D.

Professor de Línguas Bíblicas e Antigo Testamento
do SALT-IAENE, Bahia
Editor da revista Hermenêutica
Coordenador do Centro de Pesquisa de Literatura Bíblica

Para uma melhor compreensão do termo Ômega, o qual aparece nos escritos do Espírito de Profecia, temos que considerar o tema do selamento. Quem é que sela? E por que sela? Podemos entender, fundamentados em Efésios 1:13 e 4:30, que o Espírito Santo é quem sela para a redenção. Em Apocalipse 7:1-4 (veja também Ezequiel 9:1-6) o anjo sai a selar o povo de Deus antes, durante e depois da sacudidura preparando-os para o alto clamor e o fechamento da porta da graça. Portanto, a função do Espírito Santo é fundamental nos últimos dias desta geração.

Assim podemos acertadamente dizer que o Inimigo das almas tentará neutralizar a obra do Espírito Santo na vida do remanescente. Essa tentativa satânica é a substituição do Espírito verdadeiro pelo falso. Desde a sua queda no Céu, Satanás assim tem trabalhado, mas seus esforços serão mais intensos nos últimos dias. Essa tentativa de substituição pode ser parte do Ômega. Apresentarei detalhes a seguir que corroboram esta asserção.

Da mesma maneira como o Alfa da apostasia no tempo do Dr. Kellogg era relacionado com a natureza de Deus (panteísmo), anulando assim o trabalho de Deus na vida do crente, o qual é a obra do Espírito Santo; assim é de se esperar que o Ômega, contenha esse mesmo elemento de engano, isto é, a tentativa de anular a obra do Espírito Santo para que o remanescente não seja selado e preparado para enfrentar os últimos eventos da história desta terra.

Conseqüentemente, esse é um estudo introdutório à ampla produção literária da IASD e por outros autores mencionados na bibliografia deste estudo. Portanto, diante da expressiva quantidade de publicações referentes ao tema proposto, a objetivação deste estudo é permitir uma re-análise das informações obtidas até o momento por muitos.

Revisão de Literatura

O tema Ômega da apostasia assemelha-se a um quebra cabeça que merece ter atenção devida antes que se torne uma bola de neve que cresce até tornar-se uma avalanche descendo a ladeira. No passado, já tivemos muitos outros problemas teológicos. O Pastor José Carlos Ramos faz uma lista deles na sua obra que cito a seguir; hoje temos outros problemas como os antitrinitarianos, testemunhas de Yoshua, os perfeccionistas, os que querem redefinir babilônia, os pentecostalistas, os legalistas, os pós-modernistas, os liberais e muitos outros que incomodam a igreja de forma geral. Dessa forma, as lições do passado devem ser aprendidas hoje, pois não é seguro ignorar problemas enquanto ainda são embrionários, pois podem gerar danos futuros à igreja. Podemos ver que muitos estão perguntando sobre o assunto, muito se tem publicado, mas na prática poucos tem tomado o tempo necessário para ler estas instruções. Assim, as opiniões e a cultura prevalecem como autoridade neste assunto. Portanto, devemos colocar de lado nossas pressuposições e opiniões individuais e usando todas as ferramentas exegéticas, históricas, arqueológicas e teológicas, fundamentados na Palavra e no Espírito de Profecia achar soluções plausíveis para este dilema que se aproxima como uma avalanche místico-religiosa e cultural. Toda solução deverá possuir características redentoras, buscando não causar divisões. A igreja Adventista do Sétimo Dia é, simbolicamente, o corpo de cristo na Terra, é a igreja remanescente, aquela que possui a última mensagem de advertência ao mundo, portanto devemos nos manter unidos na verdade evitando assim, que a igreja se secularize seguindo os moldes populares pós-modernos.

Vários estudiosos têm contribuído com este estudo. O Pr. José Carlos Ramos no seu último livro aponta acertadamente, fundamentado na Bíblia e no Espírito de Profecia, que a oposição de um grupo de pessoas à doutrina da Trindade, especialmente contra o Espírito Santo, é uma peça do quebra cabeça do Ômega. Se não aceitamos a existência do Espírito Santo como é que aceitaríamos a Sua obra na nossa vida dentro do processo da santificação?

Outro autor, Lewis R. Walton também apresenta uma análise histórica do que possivelmente poderia ser o Ômega, adicionando outras peças ao quebra cabeça. Ele apresenta nove pontos a ser considerados. Nove características do Alfa da apostasia que poderiam ser repetidos no Ômega: (1) Enganava as pessoas. Aqueles que apoiavam o Alfa não falavam segundo a Bíblia nem os Testemunhos; (2) Trazia divisões nas igrejas em vez de uni-las na mensagem presente; (3) Atacava os fundamentos da nossa crença como igreja remanescente: o Santuário, o Juízo, o Espírito de Profecia, a natureza de Deus, Justificação pela Fé, etc.; (4) Atacava a estrutura organizacional da IASD e seus líderes; (5) Esforçava-se para alcançar os jovens, até o ponto que E.G. White teve que escrever, no caso do nosso colégio em Battle Creek, o seguinte “Pais, mantenham os vossos filhos longe de Battle Creek. . . . Heresias sutis tem tomado a mente. . .. Uma advertência tenho recebido para dar aos pais, se teus filhos estão em Battle Creek, chamem nos de volta imediatamente.” (6) Atacava o Espírito de Profecia, a validade dos Testemunhos e a inspiração de E. G. White; (7) Causava um clima de ataques e críticas entre os membros da igreja; (8) Atacava os padrões morais dizendo que isto é legalismo portanto deve ser mudado, assim neutralizando a obra do Espírito na vida do crente; (9) Proclamava uma reforma na mensagem e não de vida.

Não poderia deixar de mencionar a Joachin Braun, músico professor da Bar-Ilan University, com a sua obra sobre a música na Palestina antiga. Este livro é muito esclarecedor especialmente com respeito à influência das culturas musicais do Antigo Oriente Médio sobre o povo de Israel. Esse autor declara, fundamentado na história e na arqueologia da Palestina, que o uso dos membranofones (instrumentos feito de membrana de couro sobre uma estrutura oca de madeira) eram antagônicos à religião de Israel e estes eram um símbolo do paganismo e idolatria. A classificação dos instrumentos bíblicos recomendada por Braun está dividida em quatro grupos conforme os sons de cada um deles. Os aerofones são aqueles que usam o vento para produzir o som não importando o material, os quais podem ser de osso, madeira ou metal, ex., flauta, trombeta; os cordofones possuem cordas e possivelmente uma caixa sonora para produzir o som, são eles: alaúde, lira, harpa; os idiofones, esses são os mais diversificados. Estes são aqueles em que o som é produzido pelas vibrações produzidas no próprio corpo do instrumento e, portanto, não conseguem manter o som. Por isso, eram tocados constantemente nos rituais pagãos junto com os membranofones, marcando assim o ritmo, por exemplo: chocalhos, reco-reco, castanholas, colar de ossos, cintos de pedras que ao dançar causam barulhos. Esses podem ser chamados de causadores de barulho; e os membranofones que eram feitos com uma estrutura de madeira oca recoberta por uma membrana de couro de animal que ao receber um golpe emitiam um som de percussão: tambores, tamborim, pandeiro, adufes. Esta é a classificação usada neste estudo.

Outro estudo esclarecedor é o artigo de Eric Werner, onde ele apresenta de forma lúcida o conflito entre o helenismo e o judaísmo e sua influência com respeito à música e adoração sobre a igreja cristã dos primeiros quatro séculos depois de Cristo.

Outra obra que tem sido muito útil para este estudo é o livro escrito por Vanderlei Dorneles. Na sua obra, ele apresenta de forma contundente o surgimento deste tipo do louvor pentecostal modelado pelo pós-modernismo com a sua ênfase no místico, semelhante às religiões primitivas. Nesse tipo de louvor e adoração podemos observar uma substituição do Espírito Santo por outro espírito.

Não poderia deixar de mencionar o pequeno livro publicado pela CPB fundamentado nos escritos de E.G.W. Aqui há uma seleção de citações do Espírito de Profecia. Os livros dos quais essas citações foram tiradas são de fácil acesso, portanto podem ser lidas no contexto em que a autora inspirada os escreveu. No final do livro encontramos um guia de estudo preparado pelo pastor Erton Köhler.

Temos também um clássico da música sacra: a obra de Wolfgang H. M. Stefani. A sua obra já tem sido estudada por anos nos nossos seminários. Ele apresenta de forma lúcida que o nosso conceito e definição de música e reverência estão relacionados com o nosso conceito da natureza de Deus. Na revista do Ancião, temos o artigo do pastor Otimar Gonçalves que aponta para os perigos dos estilos de músicas usados na igreja incluindo o uso dos instrumentos de percussão.

A última obra que proponho como leitura sobre este assunto é a do pastor Samuel Bacchiochi. Essa obra trata de forma histórica de como o estilo popular de música tem sido introduzida nas igrejas tradicionais e evangélicas. Mostrando assim o efeito negativo desse novo estilo. Novamente apontando para a substituição do Espírito verdadeiro por outro, que é o falso.

Portanto, no desenvolver desse assunto levaremos em consideração as Escrituras Sagradas, o Espírito de Profecia e estes autores. Além disto, deveríamos deixar nossas pressuposições pessoais e observar as evidências para termos a certeza de que aquilo que apoiamos é bíblico e não apenas uma crença popular ou gosto particular. Este estudo não tem de forma alguma a pretensão de ser a última palavra nem mesmo a última peça do quebra cabeça, mas apenas uma avaliação do que já foi encontrado anteriormente por outros estudiosos deste tema.

Qual a Importância de Reavaliar as Evidências

Colocarei de maneira resumida uma lista de razões do porquê da necessidade de se estudar e continuar aprendendo sobre o que realmente implica o ato de adorar através de música na igreja. Esta lista não está completa, é apenas uma amostra observada por mim e outros estudiosos:

1. Relaciona-se com o Futuro: “Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida,” 2ME, 38. Se a música seria um laço no futuro, tendo como presente o tempo de E.G.W., isto que dizer que hoje poderia ser o futuro que ela tinha em mente. Portanto, devemos estar conscientes disto.

2. Relaciona-se com a Identidade Adventista: “Nós somos adventistas e deveríamos abordar a adoração como adventistas. Uma adoração que preenche as necessidades dos metodistas, episcopais ou presbiterianos não seria necessariamente satisfatória para nós.” Hoje, eu incluiria aqui a adoração e louvor pentecostal como sendo não válidos para nós.

3. Relaciona-se com o Sábado: O sábado é fundamental na adoração a Deus, pois Ele é o Criador, o Redentor e o Mantenedor pela eternidade. O sábado envolve assim a criação, recriação e a Nova Terra. Portanto, o serviço aos sábados na igreja é a manifestação das Suas criaturas por esse grande amor criativo e redentor. Deus promove a adoração verdadeira, a qual é fundamentada sobre a Sua palavra. Dessa maneira, o tempo do sábado é santo, sagrado e separado do secular para um propósito especial, o ato de adorar a Deus. Esse tempo separado nos ajuda a diferenciar o sagrado do profano não somente em relação ao tempo, mas também com relação às nossas atitudes, motivos, roupas, comida, trabalhos, música e muitas outras coisas. Por isso, deveríamos ter muito cuidado em empregar qualquer estilo de música associado com estilos seculares como o jazz, blue, samba, rock, bossa nova, chorinho, country, hip-hop, etc. (veja Manual da Igreja, 180). O sábado não é um dia de nos divertir, mas sim de re-criação, de adoração a Deus, servindo-O (Isaías 1:13-14;). O sábado é o sinal de Deus com o propósito de nos auxiliar no processo da nossa santificação, que é a obra do Espírito na nossa vida (Ezequiel 31:13). Portanto, se usarmos estilos de músicas seculares estaremos profanando o sábado.

4. Relaciona-se com a adoração: O termo “adoração” palavra aparece 58 vezes no Novo Testamento. Dessas, 23 vezes aparece no Apocalipse. Assim podemos ver que a música que faz parte da adoração a Deus deve ser estudada e compreendida (veja as três mensagens angélicas).

5. Relaciona-se com a Imagem da Besta: A estátua que Nabucodonosor construiu para ser adorada em Daniel 3 representa de forma paralela um microcosmo do que será no futuro na adoração da imagem da besta (Apocalipse 13). Em ambas as passagens a adoração é fundamental. A música teve um papel importante para a adoração da imagem na planície de Dura. Essa música não era o todo do problema, era apenas uma parte que motivou ou levou o povo a aceitar de forma mais emotiva aquilo que racionalmente não aceitariam. Esse evento em Dura, sendo um paralelo com os eventos finais, poderia ser uma indicação do perigo da música no tempo do fim como E.G.W. menciona no item um desta lista (veja também Testimonies to the Church, 5, 453), preparando o cristianismo para receber o anticristo. Doukhan escreve que “este episódio do livro de Daniel nos adverte contra uma religião estritamente emocional. A emoção pode fazer parte da experiência religiosa unicamente quando vai unida a reflexão e ao raciocínio. A adoração deve incluir todo o ser e descuidar um desses aspectos poderia conduzir à adoração de um ídolo,” (Jacques B. Doukhan, Secretos de Daniel: Sabiduría y Sueños de um Príncipe Hebreo em el Exilio [Casa Editora Sudamericana: Buenos Aires, 2007], 49).

6. Relaciona-se com uma das primeiras coisas que faremos no Céu: Uma das primeiras coisas será o ato de cantar o cântico de Moisés e do Cordeiro sobre o mar de vidro com as harpas de Deus. Nada indica que essa música será dançante, psicodélica ou melodramática. Ao contrário disso, será o cantar da nossa experiência vivida com Cristo aqui na terra cantando todos os feitos de Deus e de Seu Filho por nós com os instrumentos de Deus.

Tendo esta lista de razões e muitas outras que o próprio leitor poderia adicionar, podemos compreender melhor do porquê reavaliar as evidências do tipo de música e instrumentos que poderiam ser usados no louvor a Deus na igreja. Começarei com o Antigo Testamento direcionando, como já mencionei acima, até chegarmos à música no Céu como a encontramos descrita no Apocalipse. Observe que essa peça, louvor e adoração, do quebra cabeça do Ômega é apenas sintomática, e não a patologia em si. Portanto este estudo tem como propósito o aporte de outra peça ao quadro geral já estabelecido por outros autores adventistas, incluindo E.G. White.

Exemplos Bíblicos Esclarecedores sobre o Louvor e Música no Antigo Testamento

Nesta parte do estudo não serei exaustivo, pois o espaço não nos permitiria. O propósito deste estudo não é o de exaurir todas as evidências, mas apresentar um começo à reavaliação das evidências. Começo com uma narrativa bíblica daquilo que Deus disse a Seu povo, neste caso Davi. Lembrem-se que Ele não muda.

Davi Leva a Arca Para Jerusalém 1ra Vez (ca. 1000 a.C.)

II Samuel 6:1-7 “Tornou Davi a ajuntar todos os escolhidos de Israel, em número de trinta mil. 2 Dispôs-se e, com todo o povo que tinha consigo, partiu para Baalá de Judá, para levarem de lá para cima a arca de Deus, sobre a qual se invoca o Nome, o nome do SENHOR dos Exércitos, que se assenta acima dos querubins. 3 Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Uzá e Aiô, filhos de Abinadabe, guiavam o carro novo. 4 Levaram-no com a arca de Deus, da casa de Abinadabe, que estava no outeiro; e Aiô ia adiante da arca. 5 Davi e toda a casa de Israel alegravam-se perante o SENHOR, com toda sorte de instrumentos de pau de faia, com harpas, com saltérios, com tamboris, com pandeiros e com címbalos. 6 Quando chegaram à eira de Nacom, estendeu Uzá a mão à arca de Deus e a segurou, porque os bois tropeçaram. 7 Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus.”

Observe que o espaço dedicado pelo escritor ao preparo espiritual e musical do povo de Deus nesta ocasião foi pouco. Tudo parece ter sido feito no improviso fundamentado no sentimento, cultura, emoções, motivos e boas intenções, porém sem fundamento bíblico.

Tudo deu errado nessa viagem. Apesar de Davi ter preparado um carro novo “à moda dos filisteus,” apesar de terem os melhores motivos e intenções no coração, com uma multidão de pessoas devotas, apesar de estarem cantando e se alegrando, e ainda que todos estivessem se regozijando e achando que tudo isto era a melhor “festa” ao Senhor, tudo saiu errado antes do final da trajetória.

Vejamos agora a segunda tentativa de trazer a arca para Jerusalém.

Davi leva a Arca pela segunda vez (cerca de 1000 a.C)

I Crônicas 15:1-28 “Fez também Davi casas para si mesmo, na Cidade de Davi; e preparou um lugar para a arca de Deus e lhe armou uma tenda. 2 Então, disse Davi: Ninguém pode levar a arca de Deus, senão os levitas; porque o SENHOR os elegeu, para levarem a arca de Deus e o servirem para sempre. 3 Davi reuniu a todo o Israel em Jerusalém, para fazerem subir a arca do SENHOR ao seu lugar, que lhe tinha preparado. 4 Reuniu Davi os filhos de Arão e os levitas: 11 Chamou Davi os sacerdotes . . . 12 e lhes disse: Vós sois os cabeças das famílias dos levitas; santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do SENHOR, Deus de Israel, ao lugar que lhe preparei. 13 Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o SENHOR, nosso Deus, irrompeu contra nós, porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado. 14 Santificaram-se, pois, os sacerdotes e levitas, para fazerem subir a arca do SENHOR, Deus de Israel. 15 Os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros pelas varas que nela estavam, como Moisés tinha ordenado, segundo a palavra do SENHOR. 16 Disse Davi aos chefes dos levitas que constituíssem a seus irmãos, os cantores, para que, com instrumentos músicos, com alaúdes, harpas e címbalos se fizessem ouvir e levantassem a voz com alegria. 19 Assim, os cantores Hemã, Asafe e Etã se faziam ouvir com címbalos de bronze; 20 Zacarias, Aziel, Semiramote, Jeiel, Uni, Eliabe, Maaséias e Benaia, com alaúdes, em voz de soprano; 21 Matitias, Elifeleu, Micnéias, Obede-Edom, Jeiel e Azazias, com harpas, em tom de oitava, para conduzir o canto. 22 Quenanias, chefe dos levitas músicos, tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito nisso. 23 Berequias e Elcana eram porteiros da arca. 24 Sebanias, Josafá, Natanael, Amasai, Zacarias, Benaia e Eliézer, os sacerdotes, tocavam as trombetas perante a arca de Deus; Obede-Edom e Jeías eram porteiros da arca. 25 Foram Davi, e os anciãos de Israel, e os capitães de milhares, para fazerem subir, com alegria, a arca da Aliança do SENHOR, da casa de Obede-Edom. 26 Tendo Deus ajudado os levitas que levavam a arca da Aliança do SENHOR, ofereceram em sacrifício sete novilhos e sete carneiros. 27 Davi ia vestido de um manto de linho fino, como também todos os levitas que levavam a arca, e os cantores, e Quenanias, chefe dos que levavam a arca e dos cantores; Davi vestia também uma estola sacerdotal de linho. 28 Assim, todo o Israel fez subir com júbilo a arca da Aliança do SENHOR, ao som de clarins, de trombetas e de címbalos, fazendo ressoar alaúdes e harpas.”

Davi ficou sabendo que Deus abençoava a Obede-Edom, o geteu, onde a arca havia sido deixada nos últimos três meses. Davi decide tentar trazer a arca novamente. Mas dessa, vez ele toma todas as precauções devidas, fundamentado nas Escrituras Sagradas. Perceba a quantidade de espaço dedicada ao assunto da música, louvor e preparo pessoal como requisito na participação deste evento. Isso não é apenas um capricho do escritor, mas um sinal para nós da importância que o autor quer transmitir para seus leitores com respeito à correta maneira de adorar a Deus .

Tudo deu certo nesta segunda tentativa de levar a arca. Qual foi a diferença na segunda vez que agradou ao Senhor? Compare com a primeira tentativa:

a. Santificaram-se, preparo espiritual.

b. Designaram pessoas preparadas para o canto e a música, os levitas, porque eles eram fiéis e conheciam a palavra de Deus. Mesmo no passado durante a apostasia do deserto com o bezerro de ouro, os levitas foram fieis.

c. Carregaram-na conforme o mandato divino.

d. Usaram instrumentos apropriados para a ocasião escolhidos por Deus (veja II Crônicas 7:6).

e. Reavaliaram o ato de reverência. Esse aspecto tem haver com obediência à vontade Divina revelada nas Escrituras Sagradas.

Salmos 150 (Período de Davi)

Não poderia deixar de mencionar o Salmo 150, pois este é muito usado para apoiar o uso de membranofones (percussão) na adoração e louvor. Recomendo para este estudo o artigo do professor Vanderlei Dorneles publicado no endereço http://gilbertotheiss.blogspot.com/2009/08/o-canto-do-senhor-e-o-santuario-base.html com o seguinte título “O Canto do Senhor” Seu trabalho é preciso na questão da exegese e da análise histórica. Portanto, o estudioso desse assunto deveria ler esse artigo de Dorneles e tomar a sua própria decisão.

Salomão: Inauguração do Templo (cerca de 960 a.C.)

Várias décadas mais tarde Salomão recebe o reino do seu pai Davi e inaugura o templo que seu pai planejou construir, mas não foi permitido por Deus, pois havia derramado muito sangue. Perceba que Salomão usa os mesmos instrumentos musicais que seu pai usava no louvor a Deus, mas não houve danças. Então, o Senhor fez cair fogo do Céu como sinal de aceitação do Templo. Tome em consideração a frase “os instrumentos músicos do SENHOR,” II Crônicas 7:6. Essa frase indica que eles conheciam a vontade de Deus a esse respeito, e assim se dispuseram a obedecê-lo.

II Crônicas 7:6 “Assim, o rei e todo o povo consagraram a Casa de Deus. Os sacerdotes estavam nos seus devidos lugares, como também os levitas com os instrumentos músicos do SENHOR, que o rei Davi tinha feito para deles se utilizar nas ações de graças ao SENHOR, porque a sua misericórdia dura para sempre. Os sacerdotes que tocavam as trombetas estavam defronte deles, e todo o Israel se mantinha em pé.”

Deus não permitiu o uso do tipo dos membranofones (aqueles instrumentos que possuem membrana de couro sobre algo oco para produzir sons) no templo para evitar a relação com o paganismo e os efeitos de tais instrumentos sobre o caráter e a mente dos ouvintes, e o seu efeito entorpecente, excitando os sentidos e motivando a dança. Ainda que fossem instrumentos populares na sua época e muito usados pelos cananeus que rodeavam os israelitas em Canaã. Segundo Braun, com respeito aos tambores, ele escreve que “diferente dos shofar, este [membranofone] nunca é mencionado em conexão com a música do templo,” (I Crônicas 25:6). Esses instrumentos como o tamborim, tambor e pandeiros pertenciam a estrata mais antiga dos instrumentos em Israel, pois a iconografia desses instrumentos contradiz a fé ortodoxa do Antigo Testamento

Lembrem-se que o santuário terrestre era um modelo e sombra da realidade celestial; uma réplica daquele que está no céu, assim o ritual, música, tipo de instrumento, mensagem, construção, etc., eram ordenados por Deus, Hebreus 8:2-5:

“... como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem... sacerdotes 5 os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte.”

Tempo do rei Ezequias (cerca de 715 a.C.)

Ezequias repara o templo depois de uma longa era de apostasia, mas perceba: que “instrumentos músicos do SENHOR” eram estes usados pelo rei Ezequias mais de um século depois de Salomão? O rei Ezequias nos dá esta resposta em II Crônicas 29:25-26

Também estabeleceu os levitas na Casa do SENHOR com címbalos, alaúdes e harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do SENHOR, por intermédio de seus profetas. 26 Estavam, pois, os levitas em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes, com as trombetas.”

Portanto, podemos ver que os “instrumentos músicos do Senhor” revelado a Davi pelos profetas eram o címbalos, alaúdes e harpas e as trombetas de pratas ordenadas a Moisés no deserto (Num. 10). Esses eram para ser usados no louvor a Deus, ainda que já existissem os tambores, pandeiros, e muitos outros. Aqui se encontra não uma sugestão, mas uma ordem divina para o Seu louvor revelado a Seus profetas, pois o texto é “porque este mandado veio do SENHOR.”

Vejam que o mandato veio da parte do Senhor pelos profetas. Esses instrumentos eram o címbalo, alaúdes e harpas. Por isso, esses instrumentos são os mesmos usados por Salomão e anteriormente por Davi no louvor a Deus no templo ou em qualquer outra ocasião de culto solene. Ainda que haja menções esporádicas de tambores e pandeiros aqui e ali no texto do Antigo Testamento, indica-se que não eram os melhores para louvar a Deus. Na verdade, foram tolerados, devido a ignorância do povo, como o foi a poligamia e as bebidas fortes. No louvor dentro da Casa de Deus, porém, essas coisas nunca foram permitidas nem mesmo toleradas. Podemos ver, portanto, com Nadabe e Abiú trazendo fogo estranho para dentro do santuário, com Uzá tocando a arca, e pelo fato de que nenhum dos sacerdotes entrou em união de poligamia e pelo fato de nunca ter sido permitido o uso de membranofones dentro do templo.

O címbalo, apesar de ser um idiofone, não era usado para marcar o ritmo, mas unicamente o início e as pausas, como o selah dos salmos. Seu formato era diferente do usado no paganismo onde se primava pelo ritmo marcado pelos membranofones. Veja a descrição, de ambos os tipos de címbalos, na obra de Braun. Segundo Kleining o uso dos címbalos nos tempos bíblicos do Antigo Testamento tinha a seguinte função

“o címbalo não era usado pelo maestro para conduzir o canto marcando o ritmo da estrofe ou refrão por meio das batidas, pelo contrario, este era usado para indicar o início ou a nova estrofe na música. Pelo fato de que este instrumento era usado apenas para introduzir a música, este era manuseado pelo condutor do coral de vozes em ocasiões comuns (I Crônicas 16:5), ou por três lideres do canto em ocasiões especiais (I Crônicas 15:19). Já que a trombeta e o címbalo eram tocados juntos com o propósito de anunciar o início da música os instrumentistas que os tocavam eram chamados de ‘ressoadores’ (I Crônicas 16:42).

Portanto este uso bíblico dos címbalos não deve ser usado como justificativa para usá-los, como têm sido nos conjuntos de rock ou bandas de músicas populares. No templo este instrumento não marcava o ritmo nem era usado como acompanhante do alaúde e da harpa. Esse método musical do templo é completamente oposto ao das músicas populares contemporâneas dos nossos dias, que usam os címbalos precisamente no auxílio dos tambores na bateria para marcar o ritmo da música.

O Profeta Ezequiel (Exílio Babilônico 605-530 a.C.) (Ezequiel 28:13)

Ezequiel é considerado o profeta do povo de Deus no exílio babilônico. Este profeta viveu na Babilônia. Assim, Ezequiel 28:13 (“... a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti...,” Almeida Revista e Corrigida, 1969) tem sido considerado como uma possibilidade de que Deus tenha criado Satanás com tambores nas mãos. Isso, porém, iria não somente contra todas as narrativas bíblicas sobre o uso dos instrumentos de percussão no templo, mas também seria um crime contra o próprio texto de Ezequiel. O contexto geral é sobre a queda de Lúcifer e o contexto específico é de como ele estava paramentado para servir na presença de Deus antes da sua rebeldia.

Dois Termos-Chave para Entendermos esse Texto

Há dois termos (ou frases) hebraicos neste verso que esclarecem esta questão. O primeiro deles é tupeyha, traduzida por algumas versões por “teus tambores/tamborins.” Em nenhum outro lugar na Bíblia Hebraica esse termo aparece com esta vocalização, somente aqui ela ocorre. Portanto não há um paralelo bíblico para uma exata tradução. Contudo, fundamentando-se no contexto e no estudo etimológico do dado vocábulo, suas cabíveis traduções seriam: “estrutura” “engaste,” “encrave,” “suporte,” “encaixe,” ou “beleza.”

As versões antigas testemunham sobre o texto Massorético (veja o aparato crítico da Bíblia Hebraica Stuttgartensia) traduzindo a frase tupeyha, supostamente “teus tambores,” da seguinte maneira: a Septuaginta traduz “[de ouro] os teus tesouros,” a versão Siríaca por “teu tórax”; a Vulgata latina de Jerônimo traduz por “teus adornos”; Áquila e Teodósio, duas versões antigas que primavam pela literalidade do texto traduziram como “tua beleza.”

Considerando-se o estudo semântico da língua hebraica e de suas cognatas, vários comentaristas preferem traduzir este primeiro termo, ou frase, como sendo apenas um suporte para as pedras preciosas e não como instrumento musical. O hebraísta H. J. van Dijk conclui que a melhor tradução para tupeyha seria “os trabalhos da tua beleza,” tomando por base a vocalização da palavra hebraica yaphah “belo”. O reconhecido lingüista G. R. Driver (“Uncertain Hebrew Words, JTS 45 [1944]: 14) interpreta esse termo como sendo um ornamento com o formato de um tamborim, onde as pedras preciosas eram encaixadas. Assim conclui Driver ao analisar tupeyha em símile com o texto de Jeremias 31:4. Semelhantemente G. A. Cook, autor de um dos melhores comentários crítico textual já publicado (The Book of Ezekiel, International Critical Commentary [Edinburg, T &T Clark, 1936], 317) segue a mesma linha de interpretação de Driver. Por sua vez, o lexicógrafo Jahnow Hedwig (Das Hebräische Leichenlied im Rahmen der Volkerdichtung, em Beihefter zur Zeitschrift fur die Alttestamentliche Wissenchaft, 36 [Giessen: Alfredo Töpelmann, 1923], 222) sugere “tua obra esculpida.”

O segundo termo hebraico encontrado no mesmo verso que apóia a palavra “engaste” como a mais provável tradução para tupeyha é uneqaveyha “e os teus suportes” (traduzido por alguns por “adufes” ou “pífaros”), isto é, das pedras preciosas. Esse termo, na forma em que se encontra aqui, não ocorre em nenhum outro lugar do texto hebraico; portanto, sem um paralelo exato no texto hebraico, o que torna sua interpretação ainda mais difícil.

A Septuaginta traduz uneqaveyha por “os teus armazéns,” enquanto que a Vulgata Latina apresenta o seguinte texto “teu peito” ou “tua fronte”. O assiriologista Schiel (“Fragments de la legende du dieu zu,” Revue de Assyriologie et d’Archéologye Orientale 35 [1938], 14-25), apoiado num estudo paralelo com a língua dos caldeus, propôs que este segundo termo implique em um “ornamento oco” onde se encaixavam as pedras preciosas. Dijk (p. 119), por sua vez, prefere tomar essa palavra como um termo expressando algo “notável”. Ele conclui assim baseado em Amós onde um termo semelhante a este (uneqaveyha) aparece “... homens notáveis [nequevay] da principal das nações...,” Amós 6:1. Desta maneira Dijk propõe a tradução “e esplendor em ti,” para este segundo termo e não “teus adufes” ou “pífaros.” Um dos léxicos hebraicos mais populares no mundo acadêmico (F. Brown, S.R. Driver e C.A. Brigg, eds., A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament. Oxford: Clarendon Press, 1951) explica esta palavra (nequeva, cujo significado primário é “orifício, túnel, buraco”) como “termo técnico para trabalhos de pedras preciosas, provavelmente contendo algum orifício ou cavidade,” e apresenta a seguinte tradução para ambos os termos encontrados em Ezequiel 28:13 thy sockets and thy grooves (“teus engastes e cavidades”) ou thy settings and thy sockets (“teus lugares de receber as pedras e teus engastes”). Esse termo esta no dicionário de W. L. Holladay (A Concise Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988], 244) como significando uma “mina,” isto é, onde se explora minério ou pedras preciosas, clarificando ainda mais o contexto desta passagem onde Lúcifer recebe pedras preciosas e não instrumentos musicais.

Perceba que as duas versões Bíblicas publicadas pela Sociedade Judaica de Publicações (JPS) traduzem parte deste verso como se segue, “And gold beautifully wrought for you, Mined for you” (“e ouro belamente trabalhado para ti, extraído para ti,” [JPS-Tanakh, 1985]), e “and gold; the workmanship of thy settings and of thy sockets was in thee,” (“o trabalho elaborado da tua estrutura e dos teus engastes estava em ti” [JPS-1917). Semelhantemente a versão Almeida Revista e Atualizada de 1999 traduz “de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos.” Assim podemos ver que as versões antigas e as modernas, que apresentam uma tradução próxima do texto hebraico, não usam as palavras “tambores,” “tamborins,” “adufes,” ou “pífaros” para traduzir os termos hebraicos deste texto.

Isto demonstra que a melhor tradução para ambos os termos não é a de instrumentos musicais, mas sim apenas os encaixes e suportes das pedras preciosas. Portanto estes dois termos descrevem apenas parte da vestimenta de Lúcifer que recebiam as pedras preciosas, como por exemplo, as 12 pedras e o urim e o tumim que estavam encaixados no peitoral do sumo sacerdote e este por sua vez servia de suporte para essas gemas preciosas.

Conseqüentemente, essa passagem em hebraico não é uma evidência apoiando ou não o uso de percussão na igreja, sendo apenas a descrição das vestes de Lúcifer quando ele servia na presença de Deus.

Como regra de interpretação bíblica, não se deve fundamentar algo de suma importância, como o tema de louvor e adoração na igreja, sobre um texto com termos ambíguos indo contra todos os outros textos bíblicos que são claramente entendidos sobre o assunto. Isso não seria uma boa regra de hermenêutica e demonstra apenas a parcialidade do suposto intérprete em favor de uma versão que apóie sua preferência musical. Concluo que uma das versões portuguesas que reflete neste caso específico o texto hebraico é a Almeida Revista e Atualizada de 1999, “de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos.” A tradução literal do texto hebraico é “de ouro se te fizeram os teus engastes e os teus encaixes.” Outras versões com traduções semelhantes a essas também são aceitáveis.

Esdras e Neemias (5 séc. a.C.)

Após o exílio (quinto século a.C.) a adoração foi feita da mesma forma que no tempo de Salomão. A ênfase não era apenas na letra, mas também na música. Letras de salmos e atos salvíficos de Deus transmitida através de um ritmo sóbrio, não dançante, sem sensualidade ou balburdia e com instrumentos escolhidos por Deus. Observe que em Esdras 3:10 e Neemias 12:27 não há nenhuma menção de danças ou músicas dançante. Pelo tipo de instrumentos e pela linguagem que o autor se refere ao preparo musical, tudo indica que o tipo de adoração era semelhante ao tipo ordenado por Deus a Davi pelos profetas.

Quando os edificadores lançaram os alicerces do templo do SENHOR, apresentaram-se os sacerdotes, paramentados e com trombetas, e os levitas, filhos de Asafe, com címbalos, para louvarem o SENHOR, segundo as determinações de Davi, rei de Israel. 11 Cantavam alternadamente, louvando e rendendo graças ao SENHOR, com estas palavras: Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com altas vozes, louvando ao SENHOR por se terem lançado os alicerces da sua casa (Esdras 3:10-11).

Na dedicação dos muros de Jerusalém, procuraram aos levitas de todos os seus lugares, para fazê-los vir a fim de que fizessem a dedicação com alegria, louvores, canto, címbalos, alaúdes e harpas. 28 Ajuntaram-se os filhos dos cantores, tanto da campina dos arredores de Jerusalém como das aldeias dos netofatitas, 29 como também de Bete-Gilgal e dos campos de Geba e de Azmavete; porque os cantores tinham edificado para si aldeias nos arredores de Jerusalém. 30 Purificaram-se os sacerdotes e os levitas, que também purificaram o povo e as portas e o muro. 31 Então, fiz subir os príncipes de Judá sobre o muro e formei dois grandes coros em procissão, sendo um à mão direita sobre a muralha para o lado da Porta do Monturo (Neemias 12:27-31).

Conclusão Parcial

E o Antigo Testamento termina com Malaquias 3:6 “Eu sou o Senhor e Eu não mudo...” Deus é o mesmo ontem, hoje e amanhã. Se Ele escolheu assim, assim deveria ser até termos outra ordens dEle para que pudéssemos mudar. A cultura não deveria sobrepor aos mandatos divinos com respeito à adoração ou sobre qualquer outro estatuto explicitamente dados por Deus na sua Palavra. Lembre-se que o santuário terrestre era um modelo e sombra da realidade celestial; uma réplica daquele que está no céu, assim o ritual, música, tipo de instrumento, mensagem, etc., eram ordenados por Deus (ver novamente Hebreus 8:2-5).

O Modelo de Adoração da Sinagoga (5 séc a.C-19 séc. d.C.)

A origem da sinagoga tem sido aceita como tomando lugar no tempo do exílio de Judá em Babilônia. Essa instituição teria sido fortalecida na Palestina com a volta de Esdras. E é nesta instituição que deveríamos observar os vestígios da adoração do templo do Antigo Testamento e da igreja primitiva apostólica até o quarto ou quinto século d.C. até a invasão do Império Romano pelos bárbaros. Os intelectuais do judaísmo no período helenista (330 a.C.-330 d.C.) viam o caminho do helenismo com certo temor. Criam que o helenismo poderia ser uma ameaça à identidade da religião judaica. Rodeados pelo helenismo especialmente depois da destruição do templo (70 d.C.) os líderes do judaísmo temiam que a música helênica fosse uma tentação para abandonar o judaísmo.

O Talmude de Babilônia menciona que o Rabino Elisha bem Abuyah se apostatou devido à melodia grega que ele ouvia e pelos instrumentos musicais da cultura grega que ele possuía em sua casa. Essa preocupação com os instrumentos, com a música e com estilo de louvor da parte desses intelectuais judeus tinha como fundamento erigir uma muralha de proteção ao redor da lei. Esta era o fundamento da sua religião. Chegaram a proibir a participação em desfiles musicais gregos com o temor de assimilarem os costumes gregos. Podemos ver através da história judaica que os instrumentos musicais foram banidos da sinagoga já no exílio em Babilônia e enfatizado depois da destruição do templo no ano 70 d.C., somente o shofar permanece como instrumento simbólico-litúrgico. A razão principal foi evitar qualquer associação com os cultos pagãos assimilando assim a cultura babilônica e posteriormente a greco-romana e conseqüentemente diluindo a identidade judaica. Principalmente, o culto a Cibele na Àsia Menor e de Dionísio em Roma fizeram com que os lideres judeus evitassem tais associações. Sibyl, escritor da época, é muito explícito no que diz respeito aos cultos pagãos em relação aos cultos judaicos deste período da história; ele diz o seguinte a respeito dos judeus:

Eles não derramam sangue dos sacrifícios sobre o altar; nem mesmo os tambores são tocados, nem címbalos, nem as flautas com seus orifícios, instrumentos cheios de sons histéricos, nem um assovio da flauta pan é ouvido imitando a serpente, nem a trombeta chamando para a guerra de maneira selvagem.”

Somente no século vinte é que certas sinagogas permitem o uso de instrumentos variados. Ainda assim o uso só foi permitido nas sinagogas liberais da época, e hoje nas progressistas, messiânicas “pentecostais,” ou ultra-liberais. Os rabinos ortodoxos e chassidim não os permitem até os nossos dias, somente o shofar continua sendo aceito. Instrumentos variados, porém, são usados fora do recinto sagrado.

Conclusão Parcial

As evidências do Antigo Testamento não apóiam o uso dos membranofones (percussão) no templo ou na sinagoga ou em qualquer ajuntamento solene fora do templo. Estes estavam associados ao paganismo e foi tolerado no folclore israelita como o foi a poligamia e as bebidas alcoólicas, mas que posteriormente deveriam ser eliminados.

Parte II

Na segunda parte deste estudo apresentarei as evidências do Novo Testamento, do Espírito de Profecia, da história antiga e dos cristãos dos primeiros séculos d.C. mostrando que todos seguiram a orientação divina evitando os membranofones (instrumentos de percussão) e os estilos da música popular das respectivas épocas.

Louvor e Música no N.T e nos Primeiros Séculos d.C.

O modelo de adoração do Novo Testamento segue o modelo do templo do Antigo Testamento e o da sinagoga até meados do quarto século ou quinto d.C. Os autores da igreja cristã durante os primeiros quatro séculos foram mudando de atitude gradativamente à medida que o helenismo foi se infiltrando dentro do cristianismo até a queda do Império Romano. Com o passar do tempo a ala progressista a favor do sincretismo helenista, ganhou pela maioria contra os que eram a favor da identidade de uma religião bíblica. Nessa época encontramos Clemente de Alexandria que escreve a respeito dos pagãos dizendo:

fazem barulho com címbalos e tambores, rangendo com instrumentos de frenesi;. . . A flauta pertence a estes homens supersticiosos que correm à idolatria. Mas nós baniremos estes instrumentos de nossas sóbrias e descentes reuniões.

O canto vocal sem instrumento era o mais prezado por todos os pais da igreja sem exceção, como sendo o canto que agrada ao Senhor. Como o perigo da infiltração vinha de duas frentes ideológicas, a latina e a grega, estes cristãos optaram por cantarem somente música vocal, sem instrumentos, com letras dos salmos, imitando assim o costume dos rabinos nas sinagogas. As evidências mostram que a igreja cristã primitiva empregara judeus convertidos como cantores e estes usaram o mesmo estilo que se usava na sinagoga. Os dois tipos de música usados na igreja eram o responsorium e o canto antifonal. Ambos eram de origem bíblico-judaica, e esta última tendo sua origem no Antigo Testamento (I Crônicas 30:20, Neemias 12:27, Salmos 136, etc.). Estes cantos eram do tipo cantochão, isto é, seguindo o modelo da sinagoga, que por sua vez seguiam a acentuação dos textos bíblicos como tonalidade e ferramenta sintática. No concílio de Laodicéia (360-381 d.C.) se proibiu completamente qualquer canto que não usasse as Escrituras como letra dos hinos no serviço de culto na adoração na igreja. Essa decisão tinha o propósito de neutralizar o efeito da influência gnóstica que estava usando a música sacra da época como meio de propagar as suas idéias teológicas, isto é música sacra com letras contendo uma teologia contrária à da igreja.

Temos que levar em consideração que essa época (1-5 séc. d.C.) era o auge dos escritos apócrifos, pseudo-epígrafos, seitas cristãs diversas, Marcião, Ário e outras dentro do judaísmo, mais o paganismo, a filosofia greco-romana e o domínio militar dos romanos junto com a ameaça cultural e bélica dos bárbaros. Portanto essa época era crítica na questão da ameaça de uma nova como visão que avançava de forma progressiva colocando em risco a existência da jovem igreja cristã. Esta igreja devia tomar uma decisão entre se conformar com a nova visão de adoração ou crer que Deus supriria o que fosse necessário para a sua sobrevivência numa nova ordem ideológica sem perder a sua identidade peculiar.

A identidade da igreja primitiva já corria perigo de diluir-se em nome da justificativa de manter a sua existência diante de tantos concorrentes e num mundo onde o paradigma de adoração havia sido mudado pelo sincretismo da nova cosmovisão greco-romana. A igreja estava prestes a entrar na Idade Média.

Somente depois da infiltração da filosofia greco-romana dentro do cristianismo é que este perdeu seu temor ao sincretismo e viu isto como algo positivo para a conversão e conservação dos pagãos. Podemos aceitar, portanto, que a música da igreja cristã desta época, considerando esta como um todo e já influenciada pelo helenismo, era o canto dos salmos (cantochão), hinos da igreja (de influência helenística), e cantos merismáticos que podiam levar ao êxtase (de influência pagã).

A jovem igreja no quarto século d.C. teve que tomar uma decisão entre o não usar quaisquer instrumentos, como a sinagoga e a igreja apostólica, ou permitir certa abertura ao que o helenismo e ao que a cultura latina usavam nos seus cultos pagãos, mudando, apenas, a letra como o fazia Àrio na conversão dos bárbaros e talvez amaciando o ritmo das mesmas. Essa aceitação sincrética da parte de um grupo dentro da igreja foi posteriormente rejeitada na época de Clóvis, o rei dos francos (508 d.C.). Esse rei, com a aprovação do bispo de Roma, impôs o canto gregoriano vocal, cantochão, sem instrumento. Esse tipo de música cantochão perdurou até 1290; é claro que com as suas variedades e modificações sofridas pela influência do meio cultural. Foi nesta época (1290) que o uso do órgão foi permitido e posteriormente a reforma introduz outros elementos bons à música cristã medieval como o coral e outros. A Reforma Protestante não banalizou a música sacra, apenas introduziu elementos que a tornou mais acessível a todos. Os elementos, porém, do sacro foram preservados. Não temos espaço aqui para comentar sobre a música no período da reforma, consulte a obra de Samuele Bacchiocci que menciono no início sobre a música na Reforma Protestante.

Segundo Werner, os pontos que enfraqueceram os princípios originalmente mantidos pela igreja cristã foram: (a) a aceitação ainda que parcial do helenismo; (b) aceitação dos instrumentos musicais associados com o culto pagão, ainda que estes fossem posteriormente banidos no sexto séc. no tempo de Clovis o rei dos francos; (c) a sua flexibilidade com respeito ao canto de hinos que não fossem fundamentados no texto bíblico.

Novo Testamento

No Novo Testamento, menciona-se o canto vocal como sendo o canto da igreja apostólica. Alguns dos instrumentos são mencionados no Novo Testamento: as trombetas 20 vezes, a flauta 4, a harpa 3 vezes. Mas tambores e pandeiros nunca são mencionados no Novo Testamento, nem mesmo música dançante, com exceção da dança de Salomé pedindo a cabeça de João Batista. Veja que os instrumentos nas visões do Apocalipse a respeito do Céu são as harpas:

a. Sete selos = harpas – Apocalipse 5:8 “tendo cada um deles uma harpa.”

b. 144.000 = harpas – Apocalipse 5:8

c. Mar de vidro, o cântico do cordeiro não é dançante, “tendo harpas de Deus,” – Apocalipse 15:2

d. E. G. White descreve o instrumento dos salvos e dos anjos como sendo as harpas de Deus, sempre cantando nunca dançando.

A Música nos 3500 anos de Historia da Igreja Remanescente

Podemos ver no gráfico que através de todo o Antigo e Novo Testamentos até chegarmos ao céu, a música de Deus é, era, e será do mesmo tipo e os instrumentos musicais seguindo o modelo celestial, e lembre-se que Deus não muda. Essa música é, era, e será não dançante e tocada pelos instrumentos escolhidos por Deus. Como é que podemos agora no tempo do fim, com as qualidades de Laodicéia (Apocalipse 3), dizer que sabemos mais sobre louvor e adoração do que as Escrituras Sagradas, introduzindo coisas que foram rejeitadas, por instrução divina, ao longo da história?

Alguém pode argumentar que as coisas eram diferentes naqueles dias do Antigo e Novo Testamentos, e que não havia este tipo de música. Isto é um engano, a história demonstra que havia o que eu chamaria de “rock de baal” no Antigo Testamento, e não é difícil de perceber isto no carnaval de Dionísio e Cibele no Império Romano no tempo do Novo Testamento. Podemos ver que cada vez que Israel se apostatou havia música pagã, e estas estavam sempre relacionadas com a adoração de espíritos e deuses do paganismo. O bezerro de ouro é um exemplo, Êxodos 32:17-21:

Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial. 18 Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço. 19 Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte; 20 e, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o, e o reduziu a pó, que espalhou sobre a água, e deu de beber aos filhos de Israel. 21 Depois, perguntou Moisés a Arão: Que te fez este povo, que trouxeste sobre ele tamanho pecado?

Esse bezerro de ouro poderia ter sido o filho de Hator, a deusa com cabeça de vaca. Esta era deusa da música e do amor. Outro deus poderia ser o boi Apis; ambos deuses pertencem à religião egípcia. Portanto os israelitas estavam dançando ao ritmo daquela vida que tinham tido no paganismo seguindo os modelos e estilos egípcios.

Temos outro exemplo na Bíblia: Balaão em Moab: Números 25:1-3 “Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. 2 Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas. 3 Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel.” E.G.W. diz que a música os cativou, (ver PP, 454).

A palavra hebraica para tambor (bateria) é toph, e batidas de tambores topheth. Esse tipo de instrumento era usado para a adoração de demônios nos seus rituais e não foi permitido o seu uso no templo. Seu uso não foi permitido pela igreja remanescente para o louvor de Deus por mais de 3500 anos de história da igreja remanescente, desde Moisés até as narrativas sobre o Céu no Apocalipse. Em Jeremias 7:31-32 encontramos uma clara proibição sobre a adoração pagã que era associada aos tambores: “Edificaram os altos de Tofete (dos tambores), que está no vale do filho de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei, nem me passou pela mente.”

Perceba que o único meio que Satanás encontrou para unir o mundo debaixo de uma só bandeira teológica foi o “espiritualismo,” o mesmo das religiões animistas pagãs. Este é o mesmo engano no qual Adão e Eva caíram, “Certamente não morrereis, mas serás como Deus.” Por 3500 anos ele não pode fazer nada contra o povo de Deus, ele perseguiu, matou, foi fazer guerra contra os descendentes da mulher, “aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus Cristo.”

Satanás quer todos nós no ocultismo e espiritismo. Há uma força misteriosa no pós-modernismo guiando o mundo inteiro para a adoração de demônios. Explico: Desde 1445 a.C. até 1798 d.C. todo o mundo bíblico-cristão seguia o padrão teocêntrico, com suas variadas formas, fundamentados na síntese teológica “façamos o homem a nossa Imagem...” O louvor tinha como centro a Deus. Com a chegada do humanismo, o foco se tornou a razão humana, “não há Deus,” ninguém criou nada. Esta cosmovisão foi apenas uma ponte para o pós-modernismo, “façamos a Deus à nossa imagem,” com o seu foco nos sentimentos do ser humano, no eu, o qual é, em outras palavras, paganismo; e paganismo é por sua vez, ocultismo. O pentecostalismo nos moldes da pós-modernidade possui o seu próprio estilo de música e adoração centralizando o “eu.” Portanto com prerrogativas semelhantes ao pós-modernismo. Segundo Tsaltalbasidis

. . . música rock comunica o entendimento pós-moderno sobre a verdade. As palavras podem estar comunicando as mais profundas verdades, mas a música em si mesma está pregando outro evangelho. A música ensina que não há verdade absoluta, não há padrão de julgamento entre o certo e o errado. Esta é a mensagem real pregada ao usar o conjunto de baterias.

Reverência e Pós-modernismo

Segundo Wolfgang, é o nosso conceito da natureza de Deus que afetará nossa reverência e o tipo de adoração que damos a Deus. Assim temos, de acordo com este autor, três abordagens à natureza divina. O primeiro é Deus além de mim. Este conceito é encontrado no Antigo e no Novo Testamento, na Sinagoga, através da Idade Média; o segundo conceito sobre Deus é Deus por mim: No protestantismo e reforma da Igreja; Deus dentro de mim: Teologia existencialista, Neo-pentecostalismo, espiritismo moderno, Alfa da apostasia com o panteísmo, e o pós-modernismo e o Ômega.

Quando centralizo o eu, isto se torna paganismo. Os sentimentos e as emoções, a sensualidade, o místico, o sobrenatural e o carnal são as bases do paganismo. Em suma, paganismo é a adoração do eu. O que derrubou Satanás do Céu? Foi o paganismo. Ele queria ser como Deus, ou seja, queria colocar a Deus no seu nível. E é isto que acontece com o Ômega, é o engano da serpente no jardim “serás como Deus.”

Isto é um retorno ao paganismo primitivo das religiões naturais místicas. Nas religiões modeladas pelo pós-modernismo, o centro são as emoções do ser humano, um antropocentrismo; a ênfase está nos sentimentos, na experiência pessoal, sentir é o importante. O certo é aquilo que funciona, motiva, toca as emoções e mexe com o eu, independentemente do certo ou errado. As características do pós-modernismo são as seguintes :

a. Não há verdade absoluta, tudo pode ser verdadeiro se for válido útil para uma determinada cultura num determinado tempo da sua história.

b. Não há verdade universal que deve ser encontrada, cada individuo é a verdade para si mesmo.

c. Contra todo dogma, doutrinas, leis, tradições, hábitos, cultura, e meta-narrativas, incluindo a Bíblia.

d. Crença na imortalidade da alma, espiritismo, misticismo e o sobrenatural.

e. Ênfase na experiência, sentimentos e emoções e na participação corporal.

f. Centralização do eu e suas paixões como elemento de realização pessoal.

Podemos ver, baseado no pós-modernismo, um interesse pelo ocultismo na TV, filmes, novelas, revistas moda, música, desenhos infantis, política, cultura, religiões e na ciência; o mundo está se tornando um covil de demônios.

Apocalipse 16:13-14 “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso.”

O Perigo do Louvor Falso Segundo os Escritos do Espírito de Profecia

Por volta de 1900, surge o neo-pentecostalismo nos EUA. Em uma carta que o pastor Stephen Haskell escreveu a E.G.W. ele descreve o que ele viu e ouviu na nossa campal de evangelismo público em Indiana em Setembro 25, 1900:

“Está além de qualquer descrição... Há um grande poder que acompanha este movimento que se estabeleceu lá... por causa da música que é trazida para ser tocada na cerimônia. Eles possuem um órgão, um contra-baixo, três violinos, duas flautas, três tamborins, três trombetas, e um bumbo enorme, e talvez outros instrumentos que não mencionei... Quando eles alcançam as notas elevadas, não se pode ouvir uma só palavra do canto da congregação, nem mesmo ouvir qualquer outra coisa, somente os gritos daqueles que estão meio dementes. Não acho que estou exagerando. Eu nunca vi tal confusão na minha vida. Tenho presenciado cenas de fanatismos, mas nunca algo como isto.” Ver E.G.W. Música: Sua Influência na Vida do Cristão (Casa Publicadora Brasileira: Tatuí, 2005), 36-37; MS 2, 31-39.

E.G. White responde esta carta com as seguintes palavras:

“As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes do terminação do tempo da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se pode confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo.

O Espírito Santo nunca Se revela por tais métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É melhor nunca ter o culto do Senhor misturado com música do que usar instrumentos músicos para fazer a obra que, foi-me apresentado em janeiro último, seria introduzida em nossas reuniões campais. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. As forças das instrumentalidades satânicas misturam-se com o alarido e barulho, para ter um carnaval, e isto é chamado de operação do Espírito Santo.” ME, 2, p. 36.

“Ao findar a reunião campal, o bem que devia haver sido feito e poderia havê-lo sido pela apresentação da verdade sagrada, não se realiza. Os que participam do suposto reavivamento recebem impressões que os levam ao sabor do vento. Não podem dizer o que sabiam anteriormente quanto aos princípios bíblicos. Nenhuma animação deve ser dada a tal espécie de culto,” (ME, 2, p. 37).

Percebam a urgência destas palavras: “imediatamente antes do termino do tempo da graça.” Para nós que vivemos mais próximos do fechar da porta da graça estas palavras são mais significativas. Naquela época a sua mensagem foi tão bem entendida que este tipo de adoração não prosperou na igreja; pelo contrario, desapareceu completamente. E.G. White viveu mais uma década depois deste evento e ela nunca menciona que os seus escritos, com relação a este evento em Indiana, tivessem sido mal interpretados pela liderança da igreja Adventista do Sétimo Dia. Isto é, ela concordou com o não uso de membranofones (percussão) e com o abandono do estilo pentecostal de louvor.

O Porquê da Situação Sintomática do Ômega

Todas as igrejas tradicionais (ex., batista, metodista, anglicana, luterana, etc.) que aceitaram este tipo de abordagem ao louvor e adoração tiveram que mudar a sua teologia e perderam sua identidade, tornando-se pentecostais nos moldes pós-modernos. Assim, a nossa igreja não deveria ir pelo mesmo caminho; sabendo que somos a igreja remanescente, temos um objetivo de existir nos dias finais da história deste mundo. Veja a seguir algumas das razões que levaram estas igrejas à perda da identidade particular que possuíam e que poderiam causar o mesmo efeito sobre nós como povo remanescente.

a) Ênfase somente na graça imputada em detrimento às doutrinas bíblicas e à graça comunicada. Um povo sem doutrinas, por mais graça que tenha, não saberá discernir entre o certo e errado, pois esta abordagem leva a espiritualização, sentimentalismo, emoção, e ao misticismo da religião. O que vale é experimentar, sentir a Cristo e o Santo Espírito de Deus em detrimento da prática da verdade.

b) Ênfase no crescimento da Igreja seguindo os moldes pentecostais pós-modernos e fundamentados nas leis de marketing. Ênfase nos números; os novos “discípulos” são colocados numa comunidade desnutrida pela falta do conhecimento doutrinário, o qual é o resultado do item anterior.

c) Aceitação do secularismo, agora nos moldes do pós-modernismo na vida diária (TV, filmes, DVD, MP4, vídeo games, música popular, moda, esportes, mídia, política, capitalismo, globalização, internet, notícias, cultura popular, entretenimentos diversos, etc. Estes meios de transmitir informações e de entreter são cheios de mensagens ocultistas, pós-modernas e pagãs quase na sua totalidade).

Características do Engano

E.G. White disse que no seu tempo houve o Alfa da apostasia, o panteísmo pregado pelo Dr. Kellogg, que enfatizava Deus em tudo e em todos, religião centralizada no eu, Deus em mim. Isto é, o espiritismo e o paganismo camuflado por uma interpretação distorcida da Palavra de Deus. No fim dos tempos, E.G. White diz que o Ômega da apostasia seria semelhante ao Alfa, porém seria mais sutil do que o Alfa. Este, o Ômega, envolve o espiritismo, a adoração de demônios no lugar de Deus. Essa adoração ao inimigo pode ocorrer de maneira inconsciente; é só aceitar o erro como verdade e conformar-se com isto, que a armadilha já está pronta para pegar o despercebido.

Chegaria o tempo em que as doutrinas bíblicas poderiam ser confundidas na prática das mesmas. E. G. White disse o seguinte a respeito disto “Antes dos últimos desenvolvimentos da apostasia haverá uma confusão de fé. Não haverá idéias claras e definidas a respeito do mistério de Deus. Uma verdade após a outra serão corrompidas,” (Signs of the Time, 28, Maio 1894 em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis [Nampa, ID: Pacific Press, 1998], 140). Portanto devemos estar alicerçados na Palavra de Deus.

“Não sejais enganados; muitos se apartarão da fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Temos diante de nós o alfa deste perigo. O ômega será de natureza assombradora,” (7 Manuscripts Release, 188; Lt 263, 1904 em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis [Nampa, ID: Pacific Press, 1998 ], 140).

“Devemos estar alertas e não nos separar da mensagem que Deus tem para este tempo. Satanás não é ignorante dos resultados que vem da tentativa de definir a Deus e Jesus Cristo de maneira espiritual que colocam a Deus e a Cristo como uma entidade não existente. O tempo ocupado neste tipo de ciência, em lugar de estar ocupado preparando o caminho do Senhor, prepara o caminho para Satanás entrar e confundir as mentes com o misticismo da sua própria invenção. Ainda que estejam vestidos como anjos de luz, eles têm feito de Deus e de Cristo como se não existissem. Porque? Porque Satanás vê que as mentes estão prontas para este trabalho. As pessoas tem perdido o rumo das pegadas de Jesus e do Senhor Deus, e tem estado a obter uma experiência que é o Ômega de um dos mais perigosos enganos que já existiu com o propósito de levar cativo as mentes dos seres humanos,” (11 Manuscripts Release 211, em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis [Nampa, ID: Pacific Press, 1998 ], 140).

“Se Deus, certamente, tem falado através de mim, vocês ouvirão muito em breve de uma ciência deslumbrante -- uma ciência do demônio. O seu objetivo é de anular a Deus e a Jesus Cristo quem Ele enviou. Alguns exaltarão esta ciência e tratarão com a ajuda de Satanás, de anular a lei de Deus. Grandes milagres serão feitos à vista dos homens a favor desta ciência deslumbrante,” (3SM 408; Lt 48, 1907, em Donald E. Mansell, The Shape of the Coming Crisis [Nampa, ID: Pacific Press, 1998 ], 140).

Fundamentado nestes textos do Espírito de Profecia as características mais importantes do Ômega dentre outras são as seguintes:

a) Anular a Deus como Pessoa: Façamos a Deus a nossa imagem, isto é, colocar o “eu” no lugar de Deus. Ter como cosmovisão o pós-modernismo, com a sua tendência ao misticismo, sentimentalismo, antropocentrismo, sentidos e emoções, experiências, relacionamento, sem compromisso com verdade anulando assim a obra de Deus. Isto não é nada menos do que paganismo (pentecostalismo). A teologia existencialista segue a mesma vereda. Veja, por exemplo, o livro Vida com Propósito de Rick Warren, que está cheio da filosofia espírita da Nova Era, anulando a Deus como ser e rebaixando Sua existência apenas como um ser sobrenatural do tipo da Nova Era que existe dentro de cada individuo.

b) Anular a justificação pela fé: Ênfase em um dos elementos da justificação pela fé em detrimento do outro. Isto é, aceitar a graça imputada, que é a obra de Jesus por nós em detrimento a santificação que é a obra do Espírito Santo em nós, transformando o coração do pecador que aceitou os méritos do sacrifício de Cristo, que é a graça comunicada.

c) Substituir o próprio Espírito Santo: Substituí-lo por outro espírito, evitando assim o selamento que preparará o povo de Deus para os eventos finais. Esta é a característica principal desta peça do Ômega.

Estas três características do Ômega estão intimamente relacionadas com a obra do Espírito Santo na vida de um cristão. Ele, o Espírito Santo, revela a Deus para os seres humanos, Ele comunica a Justificação pela fé, especialmente em se falando sobre a santificação, e por último Ele é o que sela a pessoa para a salvação mais tudo aquilo que está implicado neste processo. Assim, em síntese, uma das peças do Ômega é a tentativa satânica de substituição do Espírito Santo por outro espírito, usando meios variados, evitando assim o selamento do remanescente. Por isto E.G. White disse que este tipo de adoração aconteceria antes do fechamento da porta da graça, pois o inimigo sabe que se não temos o Espírito Santo não seremos selados para a salvação. A música, dirigida de maneira errada, entraria neste processo de engano ao suprir o sentimento de posse de um suposto espírito que não é o de Deus no adorador. Isto não quer dizer que todos que participem desta música e louvor não estão sendo selados pelo Espírito Santo, mas implica no perigo de estarmos aventurando no terreno encantado do inimigo.

E.G. White escreveu que este fenômeno de “fanatismo pentecostal” que aconteceu em Indiana por volta do ano 1900 se repetirá no futuro antes do término do tempo de graça. Note que ela chama este tipo de adoração de “fanatismo.” Observe por onde entrariam as teorias e os métodos errôneos, isto é, o “fanatismo,”: pelas “nossas reuniões campais.” Satanás quer destruir o meio que a igreja possui para levar a mensagens ou mundo, trazendo este estilo de adoração e louvor para dentro da igreja neutralizando assim a mensagem, resultando em uma igreja cheia, inchada, carecendo do poder do Espírito e da prática da verdade.

Com respeito à música ela disse que “Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida,” mas não fomos abandonados “instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem.” A seguir apresento as citações sobre este parágrafo de acordo com o que está escrito no Espírito de Profecia perceba que ela frisa bem as palavras “o Senhor me mostrou,” indicando a urgência e a fidelidade da origem da informação:

“Não entrarei em toda a triste história; é demasiado. Mas em janeiro último o Senhor mostrou-me que seriam introduzidos em nossas reuniões campais teorias e métodos errôneos, e que a história do passado se repetiria. Senti-me grandemente aflita. Fui instruída a dizer que, nessas demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de homens, trabalhando com todo o engenho que Satanás pode empregar para tornar a verdade desagradável às pessoas sensatas; que o inimigo estava procurando arranjar as coisas de maneira que as reuniões campais, que têm sido o meio de levar a verdade da terceira mensagem angélica perante as multidões, venha a perder sua força e influência...

O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons como me foram apresentados em janeiro último. Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música, a qual, devidamente dirigida, seria um louvor e glória para Deus. Ele torna seu efeito qual venenoso aguilhão da serpente.” ME, 2, p. 37.

“Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida. Deus convida Seu povo, que tem a luz diante de si na Palavra e nos Testemunhos, a ler e considerar, e dar ouvidos. Instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem. Mas a comichão do desejo de dar origem a algo de novo dá em resultado doutrinas estranhas, e destrói largamente a influência dos que seriam uma força para o bem, caso mantivessem firme o princípio de sua confiança na verdade que o Senhor lhes dera.” ME, 2, p. 3

Conclusão

Com respeito ao termo Ômega, este é a tentativa satânica de substituir o Espírito Santo, quer seja teologicamente, quer seja pela má interpretação das doutrinas bíblicas ou pelo tipo de adoração, ou por qualquer outro meio. Por exemplo, a má interpretação da justificação pela fé e a negação da existência do Espírito Santo ou por qualquer outra coisa que simule emocional e sentimentalmente a obra transformadora do Espírito Santo, como o estilo de música e adoração evangélico pentecostal e pós-moderna. Esta substituição tem como objetivo evitar o selamento do povo remanescente evitando assim o preparo do mesmo para passar pela sacudidura e receber as vestes da justiça de Cristo para participarem nas bodas do Cordeiro.

Temos que, com a ajuda das Escrituras Sagradas e do Espírito Santo, terminar a obra que Deus nos incumbiu unidos. Todo esforço deverá ser feito para não causar desunião. Devemos colocar nossas idéias e preconceitos de lado e seguir os passos de Cristo na obediência da verdade. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é o último movimento verdadeiro sobre a terra, não haverá outro depois deste. Devemos advertir ao mundo com as três mensagens angélicas e fazer o reavivamento do povo remanescente, causando assim uma reforma de vida. Esta é a mensagem presente para o mundo que perece sem o conhecimento da Palavra de Deus (João 1:1-18). No Grande Conflito está escrito,

“Vigiai, pois, ... para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo." Marcos 13:35 e 36. Perigosa é a condição dos que, cansando-se de vigiar, volvem às atrações do mundo. Enquanto o homem de negócios está absorto em busca de lucros, enquanto o amante dos prazeres procura satisfazer aos mesmos, enquanto a escrava da moda está a arranjar os seus adornos - pode ser que naquela hora o Juiz de toda a Terra pronuncie a sentença: ‘Pesado foste na balança, e foste achado em falta,” GC 495.



sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O canto do Senhor (Na perspecitva do santuário)

‘O canto do Senhor’

A experiência do templo mostra que Deus indicou um padrão de louvor

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Vanderlei Dorneles

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O Salmo 150 tem sido um dos mais importantes estímulos para o louvor a Deus. Esse hino indica a quem adorar, o espaço primordial do louvor, a motivação para fazê-lo e quem deve louvar. Ao mesmo tempo que inspira o louvor, no entanto, esse salmo também tem inspirado debates porque ele fala acerca de como louvar.

Não há qualquer problema com a afirmação de que “todo ser que respira” deve adorar a Deus, por suas grandes obras, em seu santuário. No entanto, quando o salmista indica um conjunto de instrumentos e diz que devemos louvar a Deus com “danças” (Sl 150:4), de inspirador o salmo tem se tornado polêmico.

Certos carismáticos têm visto aí uma indicação clara de que a agitação e o ritmo de danças seculares são perfeitamente adequados para louvar a Deus, desde que a poesia seja cristã.

De que tipo de dança fala o Salmo 150 é difícil de saber.

Esse salmo significa que tambores, ruídos e danças são aceitáveis como culto a Deus? Numa leitura superficial, parece claro que o culto protestante tradicional, focado no estudo da Bíblia e emoldurado por hinos reverentes, está longe de atender à recomendação do salmo. Enquanto que um culto dinâmico embalado por música envolvente, emocionante e de ritmo acentuado parece muito mais próximo.

Como entender a recomendação do salmista?

O sentido de qualquer texto só se alcança quando estudado a partir do contexto. Quem escreveu o Salmo 150? Quando foi escrito? Essas questões básicas poderão revelar a compreensão do salmista acerca do louvor.

Os salmos oferecem dificuldades a mais para o estudo por serem composições que se destacam com facilidade de seu contexto, passando a falar por si mesmos, como obra de arte. Contudo, a obra de arte tem um sentido, que deve ser visto através do contexto. Embora pareça claro o que autor quer dizer no Salmo 150, o contexto pode mostrar outras perspectivas.

O objetivo deste artigo é expor o sentido do Salmo 150 a partir da identificação de seu contexto, que seja uma breve história bíblica do louvor em Israel.

Todo estudo da Bíblia precisa ser embasado em noções metodológicas oferecidas pela própria Bíblia. Este estudo está apoiado na crença de que a Bíblia é seu próprio intérprete. Ela é suficiente em si mesma porque oferece as chaves para sua interpretação. Um texto obscuro é esclarecido por outros mais claros. Há uma unidade intrínseca à Bíblia, fruto de sua inspiração divina, sendo Deus seu autor final. A verdade revelada só pode ser obtida quando se alcança o significado original pretendido pelo autor. Isso implica que o contexto histórico e literário elucida o texto. Cada palavra deve ser entendida a partir de seu significado original.

Sendo que a Bíblia é suficiente em si mesma, ela deve oferecer luz acerca de quaisquer aspectos da vida cristã envolvidos no grande conflito. Algumas pessoas pensam que a Bíblia nada tem a dizer acerca de música de adoração. Deve-se lembrar, no entanto, que a adoração é o ponto crucial de início ao fim do grande conflito entre Deus e o adversário. Sendo assim, a Bíblia certamente tem muito a ensinar acerca do assunto.

Música e dança em Israel

De que tipo de dança fala o Salmo 150? A resposta para esta pergunta pode ser o ponto de partida para o entendimento do salmo. Ela deve ser buscada nas evidências lingüísticas e no contexto bíblico amplo do salmo.

Que tipo de dança faziam as mulheres israelitas para seus maridos quando estes retornavam vitoriosos da guerra? A dança das mulheres para Deus após o Mar Vermelho teria sido diferente de suas danças costumeiras? Não há uma indicação clara acerca dessa possível diferença. Nada parece indicar que as mulheres recém-saídas do Egito tivéssem uma dança particular para Deus e outra para os interesses seculares. Na verdade, após liderar a saída de Israel do Egito, Moisés se empenhou em reeducar o povo em muitos aspectos os quais sugerem que Israel, após séculos no Egito, tinha se tornado um povo paganizado (ver Ex 16, 20, 21, 22, 23, Lv e Dt).

Há, em vez disso, uma evidência de que a dança das mulheres não era reverente e ritual. Quando a Bíblia fala das danças das filhas de Siló usa uma palavra da raiz hebraica chûl (Jz 21:21,23). A dança das mulheres de Israel na celebração de vitória militar se descreve com o termo mechôlah (1Sm 18:6; 21:11; 29:5; Jz 11:34).

Como a dança de Miriam e das mulheres para celebrar a vitória divina sobre o exército egípcio é descrita, em Êx 15:20? Também com uma palavra da raiz mechôlah. O problema se agrava quando se confirma que uma palavra dessa raiz é empregada em Ex 32:19 para descrever as danças (mechôlah) em volta do bezerro de ouro.

Alguns comentaristas afirmam que os israelitas dançaram despidos, naquela festa que se degenerou num ritual pagão. Qual a evidência disto? Quando mandou Moisés descer do monte, Deus disse: “Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu” (Ex 32:7, grifado). Ao descer, quando viu o bezerro e as danças, Moisés quebrou as tábuas da lei, indicando que a aliança daquelas pessoas com Deus estava quebrada (32:19). Arão diz que o povo é “propenso para o mal” (v. 22), e Moisés disse que povo estava “desenfreado” (v. 25). Em Êxodo 32:6, se diz que naquele dia o povo de Israel levantou de madrugada para comer e beber, e “divertir-se”. O verbo empregado para essa diversão (letsacheq) é traduzido por paidzein, na LXX (Septuaginta, versão grega do AT), e indica práticas de caráter sexual. O mesmo verbo é usado para falar de relações íntimas, em Gn 26:8 e 39:14. Paulo confirma essa idéia ao interpretar a “diversão” dos israelitas em termos de “imoralidade”, razão por que milhares perderam a vida (1Co 10:6-8). Ellen G. White também confirma que “o culto de Ápis era acompanhado da mais grosseira licenciosidade, e o relato das Escrituras denota que a adoração ao bezerro levada a efeito pelos israelitas foi acompanhada por toda a devassidão usual no culto pagão” (PP, 316).

Mas a quem o povo de Israel fazia a celebração no Monte Sinai? Ao bezerro de ouro? Ao boi Ápis do Egito? Arão tinha dito claramente (Ex 32:5) que a festa era para o “Senhor” (Yahweh, o Deus do pacto). Essa era a boa intenção dele.

Assim, como Miriam e as mulheres dançaram para Deus, os israelitas no Sinai tinham intenção semelhante. A diferença entre a dança de Miriam e dos israelitas no deserto pode ser só o desdobramento da segunda, quando o povo perdeu os limites. A semelhança é sugerida pelo uso dos mesmos termos, e pelo contexto cultural.

Mas, caso as mulheres de Israel tenham feito uma dança secular para louvar, como Deus pôde aceitar isso? Quando o adorador ainda não tem luz acerca do assunto, a sinceridade do coração é muito importante quanto à aceitação por parte de Deus. Mas isso só até as pessoas saberem o que Deus quer e como ele quer. Deus não considera os tempos de “ignorância” (At 17:30).

Se a dança de Miriam para Deus e a das mulheres para os guerreiros era secular bem como aquela feita no Sinai, de que dança fala o Salmo 150?

A palavra hebraica traduzida por “danças” no Salmo 150 é machôl, da mesma raiz chûl. Nesse caso, o salmo não fala de uma dança extraordinária. Fala de dança comum acompanhada por música também comum. Isso pode ser confirmado pela menção de instrumentos diversos.

A idéia de que essa palavra machôl possa ser traduzida no Salmo 150 por “órgão de tubos” ou “flauta” não é relevante porque a combinação “adufes e danças” é técnica. Quando tambores são usados, dançar é natural.

Aqui há um ponto delicado. Se a dança e a música de Israel para Deus era a mesma realizada nas festividades seculares, e se Deus não indicou nada em contrário, então cada cultura poderia louvar a Deus com suas próprias criações musicais e coreográficas, e não haveria restrições para estilos musicais nem danças, nem faria sentido falar de uma música de louvor. Nesse caso, a música e a dança nada teriam de secular ou sacro. A música sacra estaria desacralizada.

Tem a Bíblia algo a falar sobre uma música de louvor?

Deve-se observar que os eventos referidos acima são anteriores à edificação do templo de Salomão, ocasião em que um sacerdócio completo foi organizado, inclusive um sacerdócio para a música de louvor. Esse sacerdócio aponta princípios decisivos para a música sacra.

Descuido penalizado

Logo que consolidou seu reino sobre Israel, Davi quis levar a arca do Senhor para Jerusalém, a cidade de Davi (ou Sião, 2Sm 5:6-7). O transporte da arca e a posterior edificação do templo são eventos cruciais na compreensão do louvor em Israel. Esses eventos estão relatados com riqueza de detalhes musicais nos livros das Crônicas, obra de um sacerdote, e provavelmente também músico.

Os especialistas consideram que os livros de Crônicas e Esdras apresentam características literárias e históricas que sugerem um mesmo autor, o próprio Esdras. Tendo escrito após o exílio babilônico, o autor de Crônicas constrói uma reflexão sobre o passado de Israel e uma lição de fidelidade ao Senhor, à sua Lei e ao culto em seu santuário em Jerusalém. Davi é uma figura central nessa narrativa por causa do interesse do cronista em destacar a natureza e a importância do culto a Deus.

Quem era Esdras? Trata-se de um sacerdote, filho de Seraías, da linhagem de Zadoque, homem piedoso e letrado, influente na corte babilônica, segundo a tradição. Ele próprio diz que “era escriba versado na Lei de Moisés, dada pelo Senhor” (Ed 7:6), e um mestre da lei (7:12). A tradição judaica o considera como um “segundo Moisés”, pelo papel que desempenhou no retorno dos judeus a Jerusalém e na restauração da lei e do culto a Deus. Esse homem letrado e profundamente temente a Deus conta a mesma história de Reis e Samuel, concentrado no reino de Davi e nas questões do culto a Deus. Seu zêlo pelo culto se reflete na forte ênfase dada ao templo, à arca, e à música de louvor, assim como o zêlo pela pureza étnica e religiosa se reflete nas longas listas genealógicas.

Narra o cronista que, para transportar a arca, Davi preparou um carro novo (1Cr 13:7) e um conjunto de intrumentos musicais para a festa, incluindo harpas, alaúdes, tamboris (adufes), címbalos e trombetas (1Cr 13:8). Em 2Samuel acrescentam-se “pandeiros” (6:5). O cronista é bastante resumido ao narrar esse evento. Mesmo assim pode-se concluir que não havia nenhuma novidade musical ou litúrgica como parte do louvor a Deus, em comparação com os episódios já mencionados acerca da experiência litúrgica de Israel. A presença de “tamboris” sugere que a música era de ritmo destacado, e promovia a dança, o que Davi e Israel o fizeram à vontade; eles “se alegravam com todo empenho”, isto é, dançavam (1Cr 13:8).

Tanto no relato de Samuel quanto em Crônicas, na primeira festa, “Davi e todo o Israel alegravam-se”, ou dançavam (2Sm 6:5, 1Cr 13:8). Ao passo que na segunda, se diz que só Davi dançou (2Sm 6:14, 1Cr 15:29).

Que tipo de dança teria sido essa? Como a Bíblia a expressa? Tanto em 2Sm 6:5 quanto em 1Cr 13:8, o verbo usado para a “dança” é o hebraico tsacheq, da mesma raiz de letsacheq, empregado em Ex 32:6 para descrever a diversão dos israelitas. A LXX traduz esse verbo nesses três casos com o mesmo verbo paidzô. O sentido exato do verbo hebraico nesta passagem de Samuel e Crônicas é bastante discutido. O significado geral desse verbo é rir, brincar, folgar, dançar, pular, e, às vezes, divertir-se sensualmente. O renomado Theological Dictionary of the Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 14:69) diz que o verbo pode indicar uma dança “profana” de Davi e Israel diante da arca, do contrário Mical “dificilmente teria levantado a acusação de nudez e comportamento dissoluto”. O igualmente autoritativo The Theological Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 5:627) diz que o verbo paidzô que traduz o hebraico tsacheq expressa um tipo de dança comum entre os antigos cultos primitivos gregos, e que o mesmo fenômeno se observa no início do culto em Israel, com conotações “orgiásticas”.

Ellen G. White, no entanto, afirma que a dança de Davi foi em “júbilo reverente” (PP, 707). O que isso quer dizer? Estaria ela falando da natureza da dança em si? É bom lembrar que Ellen G. White confirma que o verbo hebraico traduzido por “divertir-se” tem conotação sensual (PP, 316). Pode ser que, quando fala da dança de Davi, ela não está falando da natureza da dança em si mesma, que é o tópico das obras citadas acima, mas do espírito e objetivo com que ela foi executada. Nesse caso, Davi estaria louvando a Deus de forma reverente, embora empregasse um recurso comum.

Se Davi fez uma dança comum e secular para Deus, embora com reverência, quem reprovaria o rei de Israel? Só uma pessoa íntima que tivesse motivos pessoais para tanto. E quando Mical o censurou por “descobrir-se sem pejo”, como se faz um “vadio”, ele mesmo não a contradisse, limitando-se a afirmar que “ainda mais desprezível” se faria perante o Senhor (2Sm 6:20-22).

Essa dança de Davi parece ser cronologicamente a última menção de dança associada ao louvor direto a Deus. Mesmo na festa dos tabernáculos, quando, em geral à noite, o pátio do templo apresentava uma cena de grande regozijo, em que, como descreve Ellen G. White, “homens de cabelos brancos, os sacerdotes do templo e os príncipes do povo, uniam-se em festivas danças ao som dos instrumentos e dos cantos dos levitas” (DTN, 463), a ocasião é claramente de caráter social.

O novo cântico

A despeito dos preparativos de Davi e da multidão de Israel que se reuniu, o transporte da arca foi frustrado. Tendo sido Uzá morto pelo Senhor, a arca ficou no meio do caminho. Apesar da morte de Uzá, Davi podia ter carregado a arca até Jerusalém, ele a levou até a casa de Obede-Edom (1Cr 13:13). No entanto, Davi ficou temeroso (13:12). Possivelmente ele ainda não estivesse preparado para ter a arca perto de si. Ela foi levada para a casa de um levita (1Cr 13:14, 26:4,8).

Meses depois, tendo passado a ira divina, Davi retomou seu plano (1Cr 15:3). Ao passo que o cronista dedica apenas 14 versos para falar do primeiro evento, desta vez ele narra em dois longos capítulos, com variados detalhes acerca da música.

Em 1Crônicas 15:11 e 12, é dito que Davi chamou os sacerdotes para planejar o transporte da arca, o que ele não tinha feito na primeira vez. Deve-se considerar um ponto crucial para a leitura do relato: Se Davi tivesse entendido que seu erro consistia em ter colocado a arca num carro e permitido que não-sacerdotes a transportassem, na segunda festa ele alteraria esse ponto e todo o restante faria igual, especialmente a música. Mas não foi isso que aconteceu. Ele combinou que os sacerdotes deveriam levar a arca (15:13), e que eles deveriam fazer a música para louvar a Deus (15:16).

Ao passo que a ordem para carregar a arca é relatada em apenas um verso, o cronista narra a música desse evento em dezenas de versos. Embora informe que Davi tenha dançado (1Cr 15:29), o cronista repete várias vezes a lista de instrumentos, que não sugere uma música feita para dançar. Foram usados “címbalos, alaúdes e harpas”, além de trombetas (ver 1Cr 15:16, 19-21, 28, 16:5, 42). Deve-se notar que a partir desse evento a lista “címbalos, alaúdes e harpas” torna-se uma expressão técnica para a música do templo.

A omissão de tambores e pandeiros em nenhuma hipótese pode ser atribuída a eventual lapso de memória do cronista. Ele repete a lista dos instrumentos cinco vezes só nesse relato. Além disso, um tal lapso seria estranho à extraordinária memória do autor que lembra o nome dos músicos e suas respectivas famílias (1Cr 15:17-24), além dos milhares de famílias e gerações que ele lista no início das crônicas (1Cr 1-12). Ele sabe de que são feitos os instrumentos e em que tonalidades são tocados (1Cr 15:19-21). Isso é ainda mais relevante ao se considerar que ele está narrando fatos ocorridos havia mais de 500 anos. Davi iniciou seu reinado por volta do ano 1000 a.C. Esdras saiu de Babilônia por volta de 450 a.C.

A lista “címbalos, alaúdes e harpas” ocorre diversas vezes, sendo caracterizada como a música do templo. Davi preparou esses “instrumentos” exclusivamente para louvar ao Senhor (1Cr 23:5). Os levitas músicos foram consagrados, ungidos ou “separados” para louvarem ao Senhor com “címbalos, alaúdes e harpas” (1Cr 25:1 e 6). Na inauguração do templo, os levitas tocavam “címbalos, alaúdes e harpas” ou “instrumentos músicos para louvarem ao Senhor” (2Cr 5:12,13). O cronista diz ainda que esses eram os “instrumentos músicos do Senhor, que o rei Davi tinha feito para deles se utilizar nas ações de graças ao Senhor” (2Cr 7:6, ver também 9:11).

O cronista usa várias vezes um qualificativo para falar da música de louvor a Deus no contexto do templo, a partir do segundo transporte da arca. Em referência a essa música, ele usa as expressões “hinos” (1Cr 16:7), “a música de Deus” (1Cr 16:42), “cântico do Senhor” (1Cr 25:7), “louvor ao Senhor” (2Cr 5:13) e “cântico do Senhor” (2Cr 29:27). A expressão “cântico do Senhor” literalmente é “a música do Senhor”.

O início de uma nova fase na história litúrgica de Israel é claramente marcado pelo cronista com a seguinte expressão: “Naquele dia, foi que Davi encarregou, pela primeira vez, a Asafe e a seus irmãos de celebrarem com hinos ao Senhor” (1Cr 16:7). Com duas expressões de tempo que delimitam um divisor de águas (“naquele dia” e “pela primeira vez”), esse verso indica que até aquele evento, Israel teve uma experiência de louvor, e a partir dali teve outra.

Essa compreensão de 1Cr 16:7 é reforçada pelo contexto. Em 1Cr 15:16, “Davi disse aos chefes dos levitas que constituíssem a seus irmãos, os cantores...”. 1Cr 16:4 diz que Davi “designou dentre os levitas os que haviam de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar e louvar, e exaltar o Senhor, a saber, Asafe... ”. E 1Cr 25:1 diz que “Davi separou para o ministério os filhos de Asafe, de Hemã e Jedutum, para profetizarem com harpas, alaúdes e címbalos”.

O transporte da arca para Jerusalém marcou o “início histórico do ministério musical dos levitas em Israel”, e “a nomeação feita por Davi de um ministério levítico para a música e o louvor a Deus marca um significativo avanço para a história do culto em Israel” (The Expositor’s Bible Commentary [Zondervan: Grand Rapids, MI], “1Cr 15:16 e 16:4”, 4:387-389 ). Sobre 1Cr 16:7, o Broadman Bible Commentary (Broadman Press: Nashille, TN) diz que “Davi fez uma nomeação permanente” relativa ao louvor a Deus, para ser dirigido pelos músicos levitas.

Esse episódio mostra não apenas que o louvor a Deus passou por uma mudança litúrgica como também que ele foi institucionalizado para ser dirigido por um sacerdócio ordenado. Os cantores levitas dirigiam o canto de louvores e a congregação tomava parte ativa (1Cr 15:28, 2Cr 23:13). Os sacerdotes músicos eram mais de 10% de todos os sacerdotes (1Cr 15:16, 23:3-5). A partir desse evento o ministério do louvor é privatizado aos levitas como todos os demais. Os levitas músicos são listados por famílias, e se diz que os filhos estavam sob direção de seus pais, e todos os músicos eram “instruídos no canto do Senhor” (1Cr 25:7). A expressão sugere uma unidade entre as famílias dos músicos que era tecida por esse ministério musical.

O mandado do Senhor

Davi provavelmente fosse inclinado para o ritmo e dança. Além de rei, ele era um músico, e compositor. Que esses eram seus gostos fica claro na música e na conduta dele durante os eventos em questão. E se era assim, o que aconteceu para que ele entendesse que os levitas deviam definir a música da festa do transporte da arca e do templo, sem tamboris e pandeiros? Considerando seus possíveis gostos, Davi não faria isso por sua própria vontade.

Essa idéia está confirmada em 2Cr 29:25-27. Ali se narra a reforma de Ezequias, em que ele reestabeleceu o culto a Deus. A Bíblia declara que o rei reinstituiu a música de “címbalos, alaúdes e harpas” (29:25), a mesma música dos levitas, “segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã”. Mas, eles mesmos inventaram esse padrão musical? Não. “Esse mandado veio do Senhor por intermédio de seus profetas”, revela claramente a Palavra de Deus (ver 2Cr 29:25).

Ênfase especial é dada aos instrumentos, que além da lista específica, se diz duas vezes que eram “os instrumentos de Davi”, como passaram a ser chamados. Estes são os “instrumentos acerca dos quais Deus, através de Natã e Gade, deu instruções a Davi para que fossem usados no templo (2Cr 29:25)”, confirma The Expositor’s Bible Commentary, “2Cr 25:1”, 4:424.

Quando Davi recebeu essa revelação por meio dos profetas? Provavelmente no intervalo dos três meses em que a arca esteve na casa de Obede-Edom. Por isso Davi comandou a mudança litúrgica e musical focalizada em Crônicas. A obra The Expositor’s Bible Commentary defende que “Davi agiu sob direção divina, transmitida através dos profetas Natã e Gade” (4:389).

A música feita com esses instrumentos tornou-se um modelo em Israel. Além da reforma de Ezequias que a reinstituiu (por volta do ano 700 a.C.), na reedificação de Jerusalém, Esdras e Neemias retomaram o mesmo padrão, com “címbalos, alaúdes e harpas”, os “instrumentos de Davi” (Nee 12:27, 36), por volta do ano 450 a.C.

De uma presumível predominância dos adufes (tambores) e pandeiros, no modelo anterior ao templo (2Sm 6:5), o novo modelo deu clara predominância aos instrumentos de cordas, com as harpas e os alaúdes ou saltérios (2Cr 29:25). Os címbalos (pratos ou sinos) não podem ser vistos como uma abertura para o uso dos tambores, uma vez que esse instrumento não tem função de acentuar o ritmo como têm os tambores.

A Pictorial Encyclopedia of the Bible (Zondervan: Grand Rapids, MI, 4:315) diz que, na música do templo, “a falta de menção de um amplo grupo de percussão bem como a ausência de corpos de dançarinos podem indicar uma tentativa de evitar semelhança com as formas pagãs de adoração”.

Essa característica da música do templo não pode ser ignorada. Visualizando o louvor na eternidade, em seu cântico o rei Ezequias diz que “tangendo instrumentos de cordas, nós O louvaremos todos os dias de nossa vida, na Casa do Senhor” (Is 38:20). O Apocalipse fala de harpas nas mãos dos salvos para louvarem a Deus no Céu (Ap 5:8, 14:2).

Relendo o salmo

Tendo visualizado esse contexto da história litúrgica de Israel, pode-se retomar o Salmo 150. Quem escreveu o salmo? Quando foi escrito? Considerando que a lista de instrumentos do salmo é muito próxima da lista da primeira festa de Davi, o salmo deve ter sido escrito antes dessa festa.

Entre outras fontes de especialistas, a publicação The Septuagint Version (Zondervan: Grand Rapids, MI), diz que o Salmo 150 é “um salmo genuíno de Davi, composto quando ele venceu o combate com Golias”. Nesse caso, quando fala de como louvar, Davi naturalmente expressa a compreensão do louvor a Deus daquela fase de sua vida. A experiência do templo agregou mais luz a essa compreensão.

Isso significa que Salmo 150:4 não seja inspirado? De modo nenhum. Da mesma forma que Jesus não estava dizendo que Moisés e algum trecho do AT (como Dt 24:1-14, Êx 21:23-25, Lv 24:20, Dt 19:21, Lv 19:18, Sl 139:21-22) não eram inspirados quando ele os aprofundou, dizendo: “Ouvistes o que foi dito aos antigos...” (Mt 5:33, ver também 5:27, 31, 34), “Eu, porém, vos digo...” (Mt 5:32, ver também 5:28, 34, 39, 44). Mais tarde ele explicou por que o critério dado por Moisés estava sendo ampliado: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio” (Mt 19:8).

O conhecimento da vontade de Deus se aprofunda e se amplia com o amadurecimento do povo de Deus. Os servos de Deus louvavam com sinceridade e reverência de acordo com os costumes e estilos musicias e coreográficos que eles tinham. Porém, quando esses costumes podem interferir na relação de Deus com seu povo, como ocorreu com Israel no Sinai, ele revela novos e mais elevados padrões, no momento apropriado.

Assim, para se compreender a maneira de louvar segundo a Bíblia, deve-se estudar a partir de um contexto amplo da história do povo de Deus, nunca isolando um texto de seu contexto.

Seria o templo um modelo ou ideal para a igreja?

O templo terrestre é uma representação em dois sentidos. Ele aponta para o Messias vindouro, mas também retrata a santidade do santuário celestial, onde os filhos de Deus serão recebidos por ocasião das “bodas do Cordeiro” (Ap 19:1, 7,8, 7:9), e quando com harpas cantarão o “cântico novo” (Ap 14:2-3). A “noiva” que se “atavia” para as bodas é a igreja que se prepara para estar lá, na presença de Deus, para o louvor no próprio santuário celestial.

Ellen G. White diz que “da santidade atribuída ao santuário terrestre os cristãos devem aprender como considerar o lugar onde o Senhor propõe encontrar-se com seu povo”. Ela acrescenta que “as coisas sagradas e preciosas, destinadas a prender-nos a Deus, estão quase perdendo sua influência sobre nosso espírito e coração, sendo rebaixadas ao nível das coisas comuns”. E por fim, compara, “para a alma crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como a porta do Céu. Os cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor, são os meios que Deus proveu para preparar um povo para a assembléia lá do alto, para a reunião sublime à qual coisa alguma que contamine poderá ser admitida” (TS, II, 193).

Essa visão de um padrão de louvor indicado por Deus deve pavimentar um caminho de princípios para a música litúrgica em todos os tempos.

Vanderlei Dorneles, doutorando pela Universidade de São Paulo, é professor no Unasp, Engenheiro Coelho, e escreve dos EUA onde está a estudos. vandorneles@hotmail.com

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